A notícia publicada no “Correio da Manhã”, do dia 6-07-2012, gerou revolta e indignação por parte de todos os intervenientes no evento – a Regata de Barcos Moliceiros, integrada nas “Festas da Ria”, de Aveiro – principalmente entre os participantes: antigos moliceiros de profissão; mestres construtores e pintores; mas não só, também entre o público que costuma assistir à regata, e entre todos os que se interessam pelo nosso património lagunar e pela preservação da tradição.
Esta decisão, tomada num contexto de “crise”, vem colocar em causa um evento que já se realiza há algumas décadas, e que tem envolvido, desde sempre, os proprietários das embarcações, antigos moliceiros de profissão e outros que ainda preservam o barco moliceiro para estas ocasiões.
O número de embarcações participantes tem vindo a diminuir, no entanto, têm-se mantido a tradição e o entusiasmo entre os participantes – mesmo sem retorno do investimento que realizam todos os anos: para reconstruir; reparar; pintar e decorar as embarcações para a regata e para o Concurso de Painéis, que se realiza no dia seguinte, pela manhã, no Canal Central de Aveiro.
Estas pessoas, tendo conhecimento do cancelamento da Regata, uma semana antes do evento, através de uma notícia de jornal (Correio da Manhã, do dia 06-07-2012, conforme parágrafo em anexo), e já com algumas semanas de trabalh0 realizado nas embarcações: reparações; pintura e decoração, sentiram-se indignadas e revoltadas.
Estes homens da “Ria” foram contactados, ontem pelos media, “Correio da Manhã”, pela autora do artigo que deu a conhecer a decisão, Ana Sofia Coelho; pelo “Jornal de Notícias” – o jornalista João Paulo Costa; pelo “Diário de Aveiro” – o jornalista Luís Ventura, e pela SIC (tendo já sido publicados os respectivos artigos, no dia 07-07-2012, dos quais anexo, o do “Correio da Manhã” e respectivo vídeo).
Eles souberam mostrar toda a sua indignação e deram a conhecer os motivos pelos quais se sentem revoltados – segundo eles: está em causa a falta de comparticipação dos organismos competentes, de uma verba de cerca de 8.000 euros, para que a regata se realize (cálculos por eles realizados, no próprio dia, numa simples tábua de madeira de pinho) e que poderá acabar com uma tradição de dezenas de anos, poderá ser mesmo o início do fim de uma geração de moliceiros.
As embarcações têm vindo a ser vendidas para o turismo e as que restam são conservadas somente por sentimentalismo e muito querer, afinal foram o instrumento de sustento de gerações e guardam a história da família, da vida e dos costumes de uma época.
Esta Regata, é a mais representativa, das duas restantes (Bico e S.Paio – a da Srª da Saúde, da Costa Nova, já não se realiza há muitos anos), e é o “ponto alto”, das “Festas da Ria de Aveiro”, sendo o barco moliceiro e a Ria um “cartão de visita”para o Turismo da nossa região.
A participação de um menor número de embarcações, nas Regatas, tem sido um facto. Mas ainda, nada se fez para culmatar essa situação, ou de pelo menos manter as embarcações inscritas na Regata e incentivar outros a participar – sensibilizando para que se evite o corte do mastro, do leme, da bica da proa, e das muitas alterações formais que se têm vindo a registar ao longo destes três anos e que impedem o barco de navegar à vela (uma “castração”, se me permitem a expressão).
Depois desta notícia, a motivação decresceu e a revolta instalou-se. Desta forma, perde-se o entusiasmo por algo que tem mantido viva a memória material e imaterial de uma época, de uma região, de uma vida ao “Rio”, na apanha do moliço.
Foram sentimentos que absorvi e imagens mentais que retive e guardei, quando me desloquei ao local, nesse mesmo dia, ao final da tarde, e me deparei com os semblantes triste desses homens da Ria, esperando ainda um milagre – vislumbrei, ainda uma réstia de esperança nos seus olhos.
A sua revolta era o silêncio, mas mesmo assim, continuaram as reparações e as pinturas – afinal o seu barco é a sua vida, a lembrança de um passado distante mas feliz.
Os participantes fazem um esforço por manter a embarcação ano após ano, com prejuízo, mas fazem-no com gosto. Os que participam merecem o respeito e admiração de toda a população ribeirinha, que assiste às regatas nos dias de festa, os aplaude e se regozijam com o espectáculo.
O MEU MAIS PROFUNDO RESPEITO E ADMIRAÇÃO POR TODOS OS MOLICEIROS E HOMENS DA RIA QUE AINDA LUTAM POR MANTER VIVA A TRADIÇÃO – TRADIÇÃO ESSA QUE É “VENDIDA” COMO CARTÃO DE VISITA AOS TURISTAS QUE VISITAM A REGIÃO.
BEM HAJAM MOLICEIROS DA NOSSA RIA!
– Etelvina Almeida – extrato do artigo realizado no âmbito da pesquisa para o tema de Mestrado em Design: Embarcações Tradicionais da Ria de Aveiro…” – 08-07-2012
Uma criança deixa-se fascinar facilmente por um barco tão belo.
Como poderá esta relíquia que faz parte, e serve de cartaz, ao nosso património lagunar, cair no esquecimento e/ou ser adulterada nas suas formas, na sua essência – será negligência, ou desleixo?
ANEXOS:
“MOLICEIROS REVOLTADOS”
“Os moliceiros de Torreira e Murtosa estão revoltados com o cancelamento da regata na ria de Aveiro, por falta de verbas. Os participantes souberam pelo CM que não vai haver a 27ª edição da prova – que seria incluída nas Festas da Ria -, numa altura em que os barcos já estavam a ser reparados. Agora prometem ir para a ria a 14 de Julho, dia em que se realizaria a regata, apesar de a autarquia já não a organizar.
“Na regata, sempre iam buscar alguns subsídios que lhes permitia sobreviver. No total, a câmara gastava 8 mil euros, que não representa o total do investimento”, disse António Cravo, estudioso da ria de Aveiro e uma das principais caras da revolta com o fim da prova.
Este ano, iam participar nove moliceiros grandes e dois pequenos, que começaram a ser reparados há meses. “Já pintei seis barcos este ano”, lembrou José Oliveira. “É o meu entretenimento. Os meus bisavós já andavam no rio”, recorda o moliceiro José Rendeiro. “Somos cada vez menos moliceiros”, acrescentou José Rito, construtor naval.
A autarquia realça que não vai organizar a prova por falta de verbas, apesar de o Turismo do Centro já ter angariado três mil euros para promover a regata.”
In “CORREIO DA MANHÔ – NORTE – pag-11
Ana Sofia Coelho
Vídeo realizado pelo CM
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/sociedade/moliceiros-revoltados-com-video
POST NO MURAL DO FACEBOOK, DO DIA 06-07-2012
PODERÁ SER ESTES O ÍNICIO DO FIM DE UMA TRADIÇÃO COM DEZENAS DE ANOS???????
A Regata de Barcos Moliceiros ESTAVA AGENDADA para o dia 14 de Julho de 2012.
“(…) O certame organizado pela autarquia, há já algumas décadas, decorre até 22 de Julho. O programa contempla vários festivais e feiras, mas neste ano há uma mudança.”Não vai ser possível realizar as regatas porque não há verbas”, explicou Maria da Luz Nolasco, veradora da cultura, que espera receber muitos visitantes (…)”
Artigo do “Correio da Manhã” do dia 6-7-2012, página 11, destacável NORTE, 2º parágrafo do artigo escrito por Sofia Coelho.
Neste momento, início da tarde de 06-07-2012, encontram-se reunidos um grupo de proprietários, construtores, pintores de barcos moliceiros, junto ao Estaleiro-Museu da Praia do Monte Branco, na Torreira, indignados com a decisão tomada.
Estes barcos têm estado a ser reparados e pintados, durante estas semanas, que antecedem a regata, como é tradição. A surpresa pela notícia foi enorme, e gerou alguma revolta!
(fotografia) Regata de Barcos Moliceiros integrada nas Festas da Ria de Aveiro, realizada a 7 de Julho de 2011.
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